🌹FESTAS JULINAS A PARTIR DO HORIZONTE CAIPIRA DE SÃO PAULO🌻[Masr, 22.07.2020] Prof. Márcio

🌹FESTAS JULINAS A PARTIR DO HORIZONTE CAIPIRA DE SÃO PAULO🌻
[Masr, 22.07.2020]

Quando as professoras Credelania e Lúcia anunciaram esta festa fiquei muito interessado em participar, mas problemas técnicos me impedem. Ao mesmo tempo quis estar presente e por isso escrevi esse texto onde considero estes festejos a partir do ambiente caipira de São Paulo. Penso que podemos dizer que três elementos estão muito juntos nestas festas: a tradição, o modo de vida e o desejo de um modelo de sociedade.

A Tradição remonta ao Brasil rural aqui, em São Paulo, chamado também de Brasil caipira. Um universo quase sempre pobre porque anterior ao rico ciclo do café que em terras paulistas produziu não apenas a riqueza, que o açúcar já havia produzido no nordeste, como também a desigualdade que fez a glória dos barões e o sofrimento dos negros ainda escravizados.
Vivendo de uma economia muito mais voltada para a própria sobrevivência do que para o comércio de exportação era no vilarejo que a vida se passava e o paulista com a festa que brava o ritmo da labuta.
Em uma época que predominava o catolicismo era normal que esses momentos de confraternização se organizassem em torno dos famosos Antônio João e Pedro lembrados no calendário da igreja e comemorados nas roças com muita comida (evidentemente a base dos produtos da terra: milho, mandioca, amendoim, abóbora e etc.), com muita música e com danças capazes de alegrar as longas noites de inverno.
Vale lembrar que algumas regiões essa data coincide com o momento da colheita particularmente a do milho o que favorece e estimula a culinária sobretudo quando lembramos que antes da luz elétrica e da globalização não se tinha a facilidade que se tem hoje e que alguns produtos como, por exemplo, o curau e a pamonha eram realmente produtos de época já que não se encontrava milho verde a qualquer tempo a qualquer tempo do ano nem se conseguia conservar o milho por processo de congelamento, por exemplo. Então tudo convergir para um grande momento de festa.

Hoje, quando nos propomos a comemorar uma festa julina no sentido de uma festa que acontece no mês de julho, há também o sentido de olhar para as raízes que constituíram o povo brasileiro.  Um importante antropólogo do Brasil, Darcy Ribeiro, ao falar dos Brasis na história apresenta cinco Brasis: o crioulo, o caboclo, o sertanejo, o caipira e os sulinos.  Seus estudos sobre a formação e sobre o sentido do Brasil são muito inspiradores quando nos vemos diante da exigência de buscar caminhos para o nosso amanhã tanto enquanto pessoas como também enquanto país e igualmente enquanto cultura brasileira.  Desta forma não se trata de querer imitar o passado ou de se vestir como um caipira sertanejo, caboclo etc.,  mas antes de encontrar em nós e nas nossas tradições a inspiração para uma sociedade na qual não falte comida; onde a alegria seja abundante;   e  fraternidade um fato. Porque, afinal,  é impossível festa sem essas três notas: comida alegria e fraternidade em sentido amplo.

Aliás, é esta a razão que se quer dar quando se fala que além da tradição e do modo de vida essas festas apontam para um desejo e sociedade. Em outras palavras, como brasileiros nós possuímos um capital cultural capaz de nos motivar para uma sociedade e que a festa não depende apenas do dinheiro e do poder. Sei bem que a desfiguração que das festas juninas nas cidades de hoje dificulta perceber esse aspecto de uma vida marcada pela fraternidade, pela alegria e pela fartura, mesmo na pobreza. Mas tudo isso está lá, escondido nas festas julinas. Redescobrir isto pode ser até uma consequência bom e positiva deste nosso isolamento e da necessidade de festejarmos virtualmente e a distância um elemento importante da cultura brasileira.

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